Gosto muito do cinema e do teatro. Me encanta mais ainda a forma como se sucedem, completam-se.
Definitivamente um dos períodos mais encantadores para mim é a improvisação do século XVI, com a carnavalesca estória de Colombina e seus amores. A forma como era composta, o sentimento e o próprio sentido por trás de cada detalhe a um acaso dos atores que viviam uma vida inteira travestidos dos mesmos personagens.
Quando analisamos toda a realidade de Pierrot, Arlequim e Colombina combinados com os roteiros escritos ao longo de cada peça, podemos perceber a alegoria da própria vida, assim da forma mais simplista que possa ser, em palcos moveis, carroças, que serviam de moradia e transporte das próprias trupes.
Não era como fingir um personagem, era-se Colombina, uma combinação da essência de cada moça, que amava e queria ser amada , era-se Pierrot, moço que sonhava e desejava em sua inocência, era-se Arlequim, homem que queria pra si.
Lembro da primeira vez que vi um dos filmes de Émile Reynaud. A forma intrigante dos desenhos combinados a orquestra. Esqueci completamente qualquer tecnologia que tenha vivenciado e me senti por um momento em 1800. Foi único.
A complexidade do théâtre optique e a possibilidade de ver, como mágica, os personagens da Dell'arte em sua triangular trama, a genialidade da combinação física em transpor toda aquela realidade a um estágio tão puro, de contemplação, admiração: A experiência sublime de viver qual fosse a possibilidade, mesmo que por poucos minutos, ali, na tela.
Me apaixonei.
Me senti Colombina, fui Colombina, e por um momento quis Arlequim e o amor de Pierrot.
Parte de Pauvre Pierrot ( Pobre Pierrot ) - 1892.
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